O tatu, que costumava vagar à noite pelos pampas da Argentina, remexendo formigueiros e cupinzeiros, encontrou-se, em plena luz do dia, com uma raposa magra e faminta.
A dona do rabo felpudo, espantada com a boa aparência do cavador de buracos, perguntou-lhe:
– Puxa, amigo, como você engordou! Onde é que tem conseguido comida?
– É fácil - respondeu o tatu, sacudindo a couraça. - Venha que eu vou lhe ensinar.
Logo adiante, o tatu deitou-se na estrada de terra que levava a uma aldeia, fingindo-se de morto, enquanto a raposa se escondia no mato.
Pouco depois, apareceu uma velha camponesa com um cesto cheio de espigas de milho à cabeça. A mulher, ao ver o tatu estirado no chão, encolhido como uma bola de couro, alegrou-se toda:
Vai dar uma sopa saborosa - disse ela, jogando o bichinho dentro do cesto.
O tatu, em pouco tempo, devorou boa parte da carga. De vez em quando, jogava alguns grãos para a esfomeada raposa.
Antes de chegarem à aldeia, o tatu segurou-se no galho de uma árvore e saltou do cesto, com a barriga estufada de tanto comer.
– Eu não falei que era fácil? - gabou-se.
No outro dia, a raposa resolveu imitar o tatu. Estendeu-se no meio do caminho, imóvel, com as patas viradas para o alto, e ficou aguardando a passagem da mulher.
Mas a velha, zangada por ter sido enganada pelo tatu, desta vez apareceu com um pedaço de pau na mão:
– Pensa que eu vou cair no truque de novo? Toma! Toma! Seu malandro! - gritava, distribuindo bordoadas a torto e a direito no lombo da raposa.
Depois da surra que levou, a raposa nunca mais quis saber dos conselhos do tatu.
Lendas e fábulas dos bichos de nossa América. São Paulo: Editora Melhoramentos Ltda. 2003. pp. 09-10 |